As conclusões são assustadoras:Portanto, a humanidade já ultrapassou a capacidade de carga da Terra e a cada ano esgota antecipadamente os recursos previstos para os doze meses do calendário. O Planeta, como astro físico, vai continuar por muito tempo girando ao redor do sol, mas boa parte da vida terrestre pode desaparecer precocemente em função do egoísmo, da avareza e da ambição humana que degrada os ecossistemas e reduz a biocapacidade da Terra. A “gula” humana tem crescido em função da “desnutrição” das demais espécies vivas do Planeta.
No segundo artigo (“Qual é o número ideal de humanos sobre a Terra?”), publicado em 9 de julho, Alves retoma a velha discussão deflagrada há mais de dois séculos por Ortes e Malthus, sobre o hipotético tamanho máximo da população mundial. Nele, observa que “o número ideal de humanos depende de vários condicionantes econômicos e éticos” e recorre novamente aos dados da GFN: O primeiro condicionante econômico é o padrão de vida. O número de pessoas que a Terra pode sustentar depende do modo de produção e consumo adotado por estas pessoas. De acordo com a Global Footprint Network, em 2013, a biocapacidade global do Planeta era de 12,2 bilhões de hectares globais (gha). Como a população mundial estava em 7,2 bilhões de habitantes, a biocapacidade per capita era de 1,71 gha. Ou seja, a Terra poderia ter 7,2 bilhões de habitantes em equilíbrio com o meio ambiente se a pegada ecológica fosse de 1,71 gha. Porém, a pegada per capita estava em 2,87 gha em 2013, somando 20,6 bilhões de gha, o que provocava um déficit ambiental de 68%. Assim, segundo os dados da Global Footprint Network, de 2013, a presença humana sobre a Terra estava gerando um excesso de demanda em relação à capacidade de oferta de serviços ecossistêmicos do Planeta. Para equilibrar oferta e demanda, ou a população mundial (com pegada de 2,87 gha) tinha de cair para 4,3 bilhões de habitantes ou os 7,2 bilhões de habitantes tinham de reduzir a pegada ecológica para 1,71 gha.
Em essência, segundo o argumento da “biocapacidade”, para que a população mundial se mantivesse nos números atuais, seria preciso que o seu nível de vida médio fosse reduzido a um padrão inferior ao de Honduras, apenas ligeiramente acima do da Moldávia, o país mais pobre da Europa. Mas, como a “pegada” média global já estaria acima da biocapacidade do planeta, Alves conclui: “O fato é que o volume da população atual multiplicado pelo consumo médio global é incompatível com a capacidade de carga do planeta.” Todavia, ele incorpora outros argumentos: Mas além dos condicionantes econômicos também existem os condicionantes éticos. Será justo manter uma enorme população humana ao mesmo tempo em que se reduz as populações das outras espécies que habitam a Terra muito antes do Homo sapiens? Será justo manter bilhões de indivíduos da espécie humana, enquanto desaparecem os rinocerontes, os leões, os leopardos, os elefantes, as girafas, os gorilas, os tigres, os ursos polares, as abelhas, etc.? (…)
Assim sendo, reforça a sentença: “Certamente, o tamanho ideal da presença humana sobre a Terra (população vezes consumo) é de uma dimensão inferior ao seu impacto atual… Atualmente a humanidade já ultrapassou a capacidade de carga da Terra. Somente com o decrescimento das atividades antrópicas a humanidade atingirá o número ideal de indivíduos.” Utilizando-se o próprio conceito, é fácil constatar a constatar uma correlação direta entre o nível de desenvolvimento e a “pegada ecológica” dos países. A própria GFN oferece um gráfico (abaixo, em versão postada no sítio do WWF-Brasil), no qual observa-se que os níveis de desenvolvimento minimamente aceitáveis para sociedades modernas se situam bem acima do que as elucubrações matemáticas da ONG consideram toleráveis para o planeta (além da biocapacidade, o gráfico também apresenta o “número de Terras” necessário para que o mundo inteiro tivesse os níveis de desenvolvimento de cada país assinalado). Como os países de maiores IDH estão à direita do gráfico (as economias consideradas avançadas têm IDH superior a 0,800), a mensagem é direta: o planeta não suportaria a extensão dos índices de desenvolvimento dos países mais avançados a todos os países. |