Um mercado que movimenta valores da ordem de 120 bilhões de dólares por ano, não se pode permitir que seja prejudicado pelo fato de que a sua fundamentação econômica tem a consistência do comércio de água da chuva engarrafada, nem, tampouco, pela total ausência de base científica para a sua principal commodity. Por estes motivos, a União Europeia (UE) tratou de assegurar que, independentemente dos desdobramentos da 17ª. Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP-17), que está sendo realizada em Durban, África do Sul, o seu poderoso mercado de créditos de carbono, o Emissions Trade Scheme (ETS), será estendido até 2020.
Ou seja, como é dado como certo que a conferência não produzirá qualquer acordo vinculante para a substituição do Protocolo de Kyoto, que vence em 2012, que comprometa a maioria das economias industrializadas e em desenvolvimento em um esquema global de limitações de emissões de carbono, a UE deixa o meio ambiente de lado para se preocupar com o “business”. “Nós podemos construir a ponte para o futuro por meio de um segundo acordo nesse período. Mas isso só fará sentido se os países que representam 85% [das emissões globais] estiverem dispostos a assinar um compromisso em um futuro próximo”, afirmou a comissária europeia para Ação Climática, Connie Hedegaard (Reuters, 31/10/2011).
Para reforçar as perspectivas do ETS, a UE pretende estender unilateralmente o regime de cotas de carbono às empresas aéreas que operam no continente, que, a partir de janeiro de 2012, serão obrigadas a respeitar limites de emissões – e, por conseguinte, a recorrer ao mercado de créditos.
Não obstante, a inexistência de um acordo abrangente está reduzindo o volume de investimentos no mercado de carbono, em um processo que se soma aos efeitos da crise econômica e financeira no continente, com o efeito combinado de que a cotação do carbono caiu, no final de novembro, ao nível mais baixo desde a criação do ETS, 7,68 euros por tonelada de carbono.
A mesma tendência se verifica com os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), cujo volume de investimentos caiu para 1,5 bilhão de dólares, no ano passado, contra 2,7 bilhões, em 2009, e 6,5 bilhões, em 2008. “O mercado em geral espera que os MDL continuem, ainda que não esperemos que a clareza sobre o seu futuro seja definida em Durban”, afirmou em Londres Trevor Sikorski, diretor de pesquisa sobre mercados de carbono da Barclays Capital (Reuters, 31/10/2011).
A despeito desses esforços, tais incertezas, agregadas aos questionamentos cada vez maiores aos cenários climáticos alarmistas, em especial, na Europa e na América do Norte (no Brasil, como certas inclinações de ordem cultural costumam tardar em chegar, o “aquecimentismo” ainda é prevalecente) e, possivelmente, aos invernos mais rigorosos que parecem estar a caminho nos próximos anos, poderão resfriar também os ânimos e apetites dos investidores “carbônicos”. De nossa parte, preferimos recomendar investimentos em atividades verdadeiramente produtivas.